29 de mai. de 2011

Olhos azuis

"As de olhos azuis são as mais difíceis... não importa o que faça, nunca serão suas amigas. Não há nada a fazer...Quanto mais pesado é o homem... mais profundas são suas marcas''
Assim disse Alfredo para Totó na sala de projeção do Cinema Paradiso. Não precisa realmente ter olhos azuis, sua alma tem que ter olhos azuis. Falei o que pensava de você e você me respondeu dizendo que do jeito que eu falava parecia que você tinha olhos cinza. Busco essa mulher, encontrei em você, mas você se foi...
Nessa profunda marca, não deixada por você ou por outra, mas marcada na minha alma, procuro essa mulher de olhos azuis. Talvez na dor da procura produza algo belo, talvez a dor aja de modo sombrio e obscuro.
Mas me pergunto quem é essa mulher? Quem é você que está dentro de mim e porque procuro você mundo a fora, vagando desgovernado, perdido no deserto procurando um oásis. Peço as parcas que contem meu destino... peço ao oráculo que me conte minha sina. Não sou da família dos labidácidas, não irei fugir do meu destino. Sou apenas mais um homem em profundo desatino.

20 de mai. de 2011

Puer Senex

Um homem velho olha o horizonte, vê o sol se por, mais um dos vários que já viu, mas para ele esse parece ser diferente, é especial. Seus olhos cansados, demonstram sua idade ele percebe que seu auge já passou, percebe que está velho para esse mundo. Isso não o entristece, não enaltece a cor laranja ao fundo, esta não parece um cortejo fúnebre nem um festival jovial. Tudo o que viu, tudo o que viveu está guardado em sua alma, sim sua alma essa é completamente diferente de seu corpo, ela hoje tem o tamanho e a vitalidade de um herói mítico, porém seu corpo não demonstra essa força.

Ele olha ao lado e vê seu neto brincando, observa seu olhar curioso diante de tudo, tanta energia, tanto a aprender, tudo é curioso e novo para aquele menino de cabelos negros que corre desengonçado pelo terreno irregular daquele campo verdejante. O pequeno menino olha uma borboleta com suas lindas asas azuis que voa em direção do sol que se põe, o sol o deixa cego, mal consegue ver a criatura.

O menino vem em direção ao velho correndo desengonçado, tanta energia, tanta alegria. O velho então percebe que o mundo não acaba com ele, ele vê no menino uma continuação de sua alma, lembra-se de como já foi jovem, curioso. Ele anda em direção ao menino a passos lentos e o toma nos braços, sente aqueles braços que mal conseguem dar a volta no seu corpo. O menino sente aqueles braços velhos, porém com uma dureza e força que a idade lhe deu e ele se sente segura naquele lugar.

Uma lágrima cai do rosto do velho, o menino apenas sorri ali eles percebem que são um só, nem velho, nem novo, são uma nova criatura. O sol lança ao fundo seus últimos raios. O grande deus se despede da terra e anuncia que amanhã será um novo dia. O velho e o menino olham para o horizonte e suas imagens vão sumindo junto com os raios de sol e quando anoitece surge uma linda mulher com vestes brancas e um sorriso acolhedor que abre os braços e saúda o mundo que despertou para ela.